Maersk prevê estagnação nas importações e melhora nas exportações

O grupo Maersk viu seu faturamento cair cerca de 15% no acumulado dos nove primeiros meses de 2016 e agora vem fazendo suas apostas para 2017.

A Transportepress reproduz, na íntegra, entrevista feita por Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) e divulgada na newsletter Petronotícias

O grupo Maersk viu seu faturamento cair cerca de 15% no acumulado dos nove primeiros meses de 2016, comparado ao mesmo período de 2015, e agora vem fazendo suas apostas para 2017, quando espera que o aumento das importações chinesas deva impactar o cenário global – e especialmente o Brasil.

O Diretor de Trade e Marketing da Maersk Line na Costa Leste da América do Sul, João Momesso, ressalta que o foco da empresa para transportes marítimos no mercado brasileiro é mais voltado a cargas refrigeradas e espera um crescimento de 4% a 5% neste segmento no próximo ano, principalmente em função das exportações, já que as previsões indicam estagnação das importações, conforme mostra um relatório divulgado pela empresa sobre as movimentações do terceiro trimestre deste ano.

Já o Diretor Superintendente da Maersk Line para a região, Antonio Dominguez, reitera que o Brasil precisa ampliar seus horizontes no mercado internacional, fechando novos acordos comerciais – inclusive com mudanças no Mercosul –, e destaca os investimentos em infraestrutura como um fator fundamental para reaquecer a economia do País e alavancar o setor de transportes marítimos. “[O Brasil] poderia se aproximar de países próximos, do Mercosul, que deveria ser um acordo de livre comércio, e não um acordo político, como acabou virando”, diz.

Como estão vendo estes últimos acontecimentos na economia mundial e qual o cenário traçado para a importação e a exportação brasileira?

João Momesso – O que a gente vê em contêineres é que o Brasil sempre foi bastante importador, principalmente em relação à Ásia, enquanto que em relação à Europa isso é mais balanceado. Então é justo dizer que o País é mais importador, mas a importação caiu drasticamente nos últimos meses, e o país entrou mais ou menos num equilíbrio. Nossa importação está muito relacionada com o PIB. O que o país importa são principalmente peças automotivas, componentes, produtos que vão para Manaus virar eletrônicos, elementos da 25 de março e do Saara, e tudo tem a ver com como a economia está indo. Tem mais a ver do que com os Estados Unidos. Por exemplo, a redução da previsão do PIB, anunciada esta semana, reflete isso. Existia uma previsão de melhora mais rápida, mas, quando olhamos os gráficos, vemos que parou de piorar, mas a tendência é que a importação se estabilize e continue assim ao longo de 2017 inteiro, com talvez um crescimento muito marginal. No caso da exportação, se pegar o dólar médio dos últimos tempos, é muito mais alto do que um ano atrás, o que faz com que ela esteja bastante competitiva. Então, a gente espera que ano que vem, se tiver um crescimento, ele se dê mais do lado da exportação do que da importação.

Ao que se atribui isso?

João Momesso – Tem alguns fatores macroeconômicos que ajudam, como a China consumindo mais carne – ela deve aumentar a importação em algo entre 10% a 15% em relação há anos anteriores. Isso é muito importante para nós, que temos um foco grande em cargas refrigeradas, cujo crescimento deve ficar em torno de 4% a 5% no ano que vem. Mas, do ponto de vista de estratégia, estamos confiando muito mais na exportação do que na importação.

Como a eleição de Trump pode afetar o mercado mundial de transporte marítimo?

Antonio Dominguez – A Maersk line não faz declarações em matéria política, mas acho que a eleição dos Estados Unidos não vai ter um efeito tão grande no Brasil, que já tem seus próprios problemas, precisa lidar com eles, como a necessidade de mais investimentos em infraestrutura e na economia em geral. O Brasil precisa prosseguir no fechamento de acordos de comércio internacionais.

Com as mudanças que vem ocorrendo no Brasil, com tentativas de impulsionar novas concessões, qual a perspectiva da Maersk com o mercado nacional?

João Momesso –  Da maneira que a gente olha, quando se fala em exportação, o País é um grande exportador. No nosso segmento específico, estamos sempre olhando como trazer mais commodities para os contêineres. Nesse sentido, o investimento em infraestrutura, portos etc, é muito importante para nós. Vemos que em alguns lugares onde já tem competição, como Santos, há um aumento do interesse de fazer mais estocagem com custos mais baixos e eficientes.

O mercado de soja, por exemplo, estava a todo vapor, mas, com a queda na importação, serviços foram retirados do mercado e o espaço para a exportação foi reduzido. Com a queda na importação, houve menos movimentação de navios vindo, então reduziu as oportunidades de exportação, já que a perna que sempre paga mais é a importação, o que viabilizava os serviços de exportação a custos mais baixos. Com essa redução, reduziu o espaço de transporte para importação e também encareceu para a exportação.

No relatório, vocês apontam o Brasil como a 70ª economia mais fechada do planeta – segundo estudo da Câmara de Comércio Internacional. O que consideram importante para mudar esse quadro?

Antonio Dominguez – São dois pontos principais. O primeiro são os investimentos em infraestrutura, que o Brasil precisa melhor para ter mais movimentação de cargas. E o segundo ponto são os acordos de livre comércio. Com a União Europeia, com a China… também poderia se aproximar de países próximos, do Mercosul, que deveria ser um acordo de livre comércio, e não um acordo político, como acabou virando. Tem que mudar, para levar benefícios aos países.

João Momesso – O Brasil tem cinco acordos bilaterais hoje, apenas, enquanto o México tem 49.

Quanto o Brasil representa nos negócios da Maersk mundial? Qual foi o faturamento da empresa no País no terceiro trimestre?

Antonio Dominguez – Cerca de 2%, mas quando se fala de comércio de carga refrigerada, a importância da costa leste da América do Sul é muito grande para nós. Não divulgamos a receita local, mas o faturamento global em 2015 foi de US$ 40,3 bilhões. No acumulado dos primeiros nove meses de 2016 foi de US$ 26,6 bilhões, ante US$ 31,2 bilhões no mesmo período do ano passado.

João Momesso –  A Costa Leste da América do Sul, que engloba Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, representa cerca de 30% do volume global da Maersk na carga refrigerada. O Brasil somente deve ser de 15% a 18%. Por isso temos um foco tão grande no mercado refrigerado.

As movimentações de cargas do setor de óleo e gás já demonstraram algum sinal de reação? Qual a previsão da empresa neste aspecto?

João Momesso – Sinceramente, muito pouco. Costumávamos fazer mais, mas não temos visto muita movimentação. É um mercado que olhamos para crescer, principalmente em carga de projeto, mas infelizmente foi o mercado talvez mais impactado com a crise. Não temos uma previsão específica, mas, olhando de forma macro, não esperamos que  2017 seja melhor que 2016.

Quais os planos de expansão no Brasil para os próximos anos?

João Momesso – A realidade no curto prazo é a sobrevivência. Precisamos garantir que os resultados sejam sustentáveis. Num cenário de importação em que não vemos crescimento, estamos contando muito com as exportações, focando muito nas cargas refrigeradas. Em termos de investimentos, o foco será em trazer contêineres e investir em reparos, para termos uma frota de primeira linha para atender aos clientes. Mas não vemos condições para investimentos em novos navios no cenário mais breve.

Para mais informações, acesse: Relatório de comércio do terceiro trimestre da Maersk Line.

Entrevista feita por Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br)

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