Indústria importa 43,2% dos pneus de carga vendidos no Brasil

Sumitomo e Michelin importaram mais pneus de carga do que a soma de pneus oriundos da China, trazidos por importadores independentes.

De cada 100 pneus de carga importados pelo Brasil em 2013, cerca de 43,2% foram trazidos pela Bridgestone, Continental, Goodyear, Michelin, Pirelli e Sumitomo. Os restantes 56,8% deram entrada no país através de operações feitas por importadores independentes.

Dos fabricantes com plantas industriais no Brasil, voltados para a produção de pneus, a Sumitomo Rubber foi a que mais trouxe pneus do exterior: 324.636 unidades ou 31,16% de todo o volume relativo à indústria local.

Se o critério for ampliado para todo o mercado brasileiro, a Sumitomo foi a maior importadora de pneus do Brasil com participação de 13,5%. Em conta simples, de cada 100 pneus importados no ano passado, treze e meio foram trazidos pela empresa de capital japonês com fábrica no Paraná. Em comparação com outras marcas importadas, a Sumitomo foi a que importou com melhor preço na origem, preços comparados com o mercado chinês, que tem taxa antidumping para proteger o mercado brasileiro desde 2009.

Esses dados fazem parte de balanço realizado pelo Departamento de Economia da Associação Brasileira dos Distribuidores e Importadores de Pneus (ABIDIP), e mostram que a Michelin não fica atrás da Sumitomo no quesito importação.

Pelo contrário, a empresa de capital francês – com fábrica no Rio de Janeiro – importou no ano passado a soma de 292.870 pneus de carga (usados por caminhões para o transporte de mercadorias e ônibus, para o transporte de passageiros). Dentro da indústria brasileira de pneus, a Michelin respondeu por 28,1% do total. Já dentro da pauta de importações de pneus de carga nacional, a empresa participou com 12,2% – o que equivale dizer que de cada 100 pneus importados em 2013, doze vieram de fábricas da Michelin fora do Brasil.

Aqui vale uma observação importante: enquanto os pneus de carga importados da China somaram 290.049 unidades, equivalentes a 12% de todas as importações do gênero em 2013, as compras da Sumitomo e Michelin foram maiores. Ou seja, Sumitomo e Michelin importaram – individualmente falando -, mais pneus de carga que a soma de todos os importadores independentes que trabalham com a importação de pneus da China, o grande ‘fantasma’ eleito pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), como o vilão da indústria brasileira de pneus.

A China está presente em todos os processos por antidumping abertos pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), a pedido da ANIP, desde 2009, mas duas de suas associadas importam mais pneus de suas fábricas ao redor do mundo que a soma de todos os importadores que operam com pneus oriundos da China.

Os dados do Departamento de Economia da Associação Brasileira dos Distribuidores e Importadores de Pneus mostram que a terceira maior importadora de pneus de carga do Brasil em 2013 foi a Goodyear, que sem capacidade operacional – a empresa está robotizando as linhas de produção de pneus em sua fábrica de Americana, no interior de São Paulo – realizou importações de 210.529 unidades no ano passado.

Esse volume de pneus representa 20,2% de todos os pneus de carga importados pela indústria produtora de pneus do Brasil e 8,7% do mercado global de pneus de carga oriundos do exterior em 2013. Uma grande parte destas importações foi da China, mostrando que os argumentos da indústria nacional em relação à qualidade de pneus chineses não condizem com a realidade.

A Pirelli também importou bastante pneu de carga em 2013: 133.932 unidades, equivalentes a 12,9% de toda a indústria e 5,6% do mercado global brasileiro. Apenas como exemplo, a Pirelli trouxe o dobro de pneus importados da Rússia e mais que a soma total de pneus importados da Índia, México e Argentina.

“Esses números são importantes para desmistificar quem é quem na importação de pneus no Brasil e como a indústria age apenas em seu favor”, afirma o diretor executivo da Abidip, Milton Favaro Junior, ao destacar que a entrada de pneus importados pela indústria serve para mostrar que o setor não tem capacidade para atender a demanda interna.

 “A indústria diz que precisa do Inovar-Pneu, que precisa do apoio e da ajuda do governo, mas ela é importadora líquida de pneus de carga, com 43,2% de todos os pneus desse segmento. Eu pergunto: se a indústria importa tanto é porque não tem capacidade para produzir localmente. E se importa tanto, porque os preços dos pneus de carga continuam subindo, já que alguns preços na origem são melhores do que as marcas sul-coreanas, por exemplo?”, questiona o executivo.

Pesquisa feita pelo Departamento de Estudos Econômicos e Custos Operacionais (Decope), da NTC&Logística, mostra que o pneu  de transporte na medida 275/80 22,5R subiu 12,7% no ano passado, ante aumento de 6,9% na medida 215/75 R17,5.

Em Sondagem de Expectativas Econômicas do Transportador 2014, feita pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), com mais de 500 empresários do setor, a entidade constatou que 86,4% deles acreditam que os preços dos pneus vão aumentar esse ano. O percentual é mais alto do que o número dos que acreditam que o preço do diesel vai aumentar (85,1%) e dos que apostam que os preços dos lubrificantes ficarão mais altos (84,8%).

“A indústria brasileira de pneus dita as regras, dita os preços, não aceita competição, trabalha mais em Brasília do que no chão de fábrica ou nas necessidades dos transportadores de carga e exerce um verdadeiro oligopólio. Ao impor regras e entraves para o produto importado, ela mesma importa e, incrível, o preço do pneu nunca cai, só sobe, tanto assim que 86,4% dos empresários do setor têm mais certeza de que o preço do pneu vai subir do que propriamente o diesel e o lubrificante, o maior custo da frota hoje no Brasil”, afirma Milton Favaro Junior.

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