Guaiúle, dandelion, o genoma da hevea brasilienses e os pneus verdes
Viabilizar fontes alternativas a borracha natural extraída com base em seringueiras (a hevea brasilienses), além de substituir fibras de nylon e poliéster, feitos a partir de derivados de petróleo, está no cerne dessa busca que envolve empresas de peso como a Bridgestone, Michelin, Goodyear, Continental, Cooper, Apollo, Lanxess, Braskem, universidades e governos.
Guaiúle, arbusto originário do Norte do México e Sudeste dos Estados Unidos, dandelion ou dente-de-leão (originário da Rússia), celulose, fibras, biomassa, soja e bioetanol são apenas alguns dos insumos sobre os quais os departamentos de pesquisa e desenvolvimento das indústrias de pneus, químicas e petroquímicas, vêm se nutrindo para o estabelecimento de novos compostos que possam servir de fonte renovável para a perenidade de seus negócios.
Viabilizar fontes alternativas a borracha natural extraída com base em seringueiras (a hevea brasilienses), além de substituir fibras de nylon e poliéster, feitos a partir de derivados de petróleo, está no cerne dessa busca que envolve empresas de peso como a Bridgestone, Michelin, Goodyear, Continental, Cooper, Apollo, Lanxess, Braskem, universidades e governos.
Ao longo de 2012, a Goodyear e a Firestone (divisão de pneus da Bridgestone, nos Estados Unidos), anunciaram a produção de pneus a partir da extração do óleo de soja, por exemplo.
Aqui no Brasil, durante a Recaufair 2012, a Lanxess apresentou com exclusividade a borracha natural feita à base de cana-de-açúcar, tendo a Braskem como fornecedora do etileno voltado para a produção mundial da bio-base de borracha EPDM.
Na Europa, a Apollo Vredestein anunciou a produção de pneus integralmente feitos de dente-de-leão ou dandelion, dentro do contexto de trabalhos e estudos desempenhados pelo EU-Pérolas, um grupo multidisciplinar constituído por universidades e centros de desenvolvimento das indústrias de pneus e borracha e financiado pela Comunidade Econômica Europeia.
A finalidade central do EU-Pérolas é a realização de pesquisas sobre matérias-primas e insumos inovadores, principalmente os que venham a ter escala industrial e possam substituir o látex de seringueira.
Nos Estados Unidos, tais estudos estão ancorados no Programa de Excelência em Alternativas à Borracha Natural (PENRA), desenvolvido e patrocinado pelo governo norte-americano, com objetivos semelhantes.
Mas quais os motivos que levam a indústria química, petroquímica, de borracha e de pneus, apenas para citar esses setores, a empreender bilhões de dólares em pesquisas sobre novos materiais? Qual o problema com o látex extraído de seringueiras?
Considerado um insumo de segurança nacional pelo governo dos Estados Unidos, ao lado do petróleo, a borracha natural vem sendo o epicentro de uma queda de braço intensiva entre os países produtores asiáticos e os setores industriais que manufaturam seus produtos com base nessa matéria-prima.
Além dessa queda de braço – que em linhas gerais se torna mais evidente através de cortes de produção e controle de estoques de borracha visando o aumento de preços do insumo pelos países produtores -, contas feitas e projeções acertadas, o mundo automotivo, principalmente o segmento de pneus, chegou à constatação de que vai faltar borracha natural para suprir a demanda no raio dos próximos anos – e a indústria precisa, não apenas perenizar o seu negócio, como prescinde de insumos autossustentáveis, inseridos dentro de uma lógica de mercado que busca produtos ecologicamente corretos e, principalmente, viáveis do ponto de vista de produção em larga escala.
Portanto, briga com os produtores de um lado e necessidade de perenizar o negócio de outro são dois dos pilares que estão norteando os esforços desses centros de pesquisa e desenvolvimento, embora algumas dessas iniciativas científicas ainda se pautem sobre o aperfeiçoamento da hevea brasilienses, considerada uma planta muito propensa a riscos biológicos como vírus e pragas que podem dizimar uma plantação em poucos anos, o que coloca em risco todo o segmento de borracha e pneumáticos ao redor do mundo.
Decodificação do genoma
Apesar do crescente passo rumo à descoberta de novos insumos, as duas maiores empresas produtoras de pneus do mundo, a Bridgestone e a Michelin ainda depositam uma confiança muito grande no látex de seringueira e já obtiveram sucesso na decodificação do genoma da hevea brasilienses em seus campos de pesquisa.
No cerne desses estudos está a busca pelo desenvolvimento de clones mais resistentes a pragas, além da melhoria genética que propicie plantas ainda mais produtivas e resistentes.
No caso da Bridgestone, a maior produtora de pneus do mundo anunciou a decodificação do genoma da hevea brasilienses, em julho do ano passado, através do suporte do Genome Informatics Laboratory in the National Institute of Genetics, da cidade de Mishima, na província de Shizuoka (Japão).
Já a Michelin, segunda maior produtora de pneus do mundo, está há alguns anos-luz afrente de seus concorrentes nesse sentido.
Em Igrapiúna, no Baixo Sul da Bahia, junto à Fazenda Ouro Verde, a empresa francesa realiza pesquisas continuadas com a hevea brasilienses desde a década de 1980.
Os estudos capitaneados pelo pesquisador Carlos Raimundo Reis Mattos, com o apoio de técnicos do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica e Desenvolvimento (Cirad), da França, redundaram no desenvolvimento de clones resistentes a pragas e fungos, cujas mudas, já testadas e plantadas estão recuperando a cultura da borracha natural na Bahia.
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Fontes para pesquisa
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