ARTIGO: Mobilidade no Idoso: uma preocupação que deve ser levada a sério

Por Marcela Belchior Especialista do São Cristóvão Saúde fala sobre a importância da autonomia das pessoas 60+

Envelhecer é um processo contínuo, gradual e natural, caracterizado por mudanças morfológicas e funcionais do organismo ao longo da vida. De acordo com um levantamento recente, realizado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a população mundial está envelhecendo mais rapidamente do que no passado, principalmente em países da América Latina e no Caribe, onde transições demográficas ocorrem de forma ainda mais acelerada.  

Nessa mesma pesquisa, segundo Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2020, mais de 8% da população tinha 65 anos ou mais e estima-se que esse número dobre até 2050, e exceda 30% até o final do século.

Por esta razão, a organização lidera a agenda estabelecida como a Década do Envelhecimento Saudável nas Américas 2021-2030. Enquanto no Brasil, o Censo publicado em 2022 mostra que a população com 60 anos ou mais cresceu 56% em relação a 2010, representando 15,6% do total de brasileiros.  

Coordenadora assistencial do São Cristóvão Saúde, responsável pela fisioterapia hospitalar da Instituição, Marcela Belchior explica que a mobilidade para as pessoas com mais de 60 anos é de suma importância para qualidade de vida.

“Sabemos que as dores musculares, perda de flexibilidade, diminuição de força e equilíbrio interferem na mobilidade, na capacidade de locomoção e convívio social.

Essas geram uma cascata cíclica de disfunções físico-funcionais, como a diminuição da massa muscular, conhecida como sarcopenia ou síndrome da fragilidade, pois prejudica a capacidade de realizar tarefas cotidianas, diminuindo a independência e aumentando o risco de quedas e fraturas”. 

Quedas frequentes na terceira idade acarretam outros diversos tipos de problemas na saúde física e mental do paciente, aumentando o número de assistências sociais e sanitárias, além de gerar elevados índices de morbimortalidade.

Segundo Marcela, o maior índice de força muscular é alcançado por volta dos 30 anos, o qual se mantém estável até a quinta década, havendo redução na força muscular em torno de 15% entre os 50 e 70 anos, com acentuação ainda maior (30%) após os 80 anos de idade. 

Como a falta de mobilidade afeta a vida dos idosos? 

Autonomia: o perfil desta nova geração de idosos é bem diferente das anteriores, pois eles se apresentam muito mais ativos e saudáveis, o que traz uma maior capacidade mental e física. De toda forma, o Estatuto do Idoso resguarda o direito de ir e vir desse público, uma vez que estejam lúcidos, tendo liberdade para fazer suas escolhas e administrar suas finanças, de forma independente.

“É importante que haja liberdade para que eles cuidem de suas próprias vidas. Podar essa liberdade pode trazer muitos outros problemas; então, estando com a saúde em dia, não tem por que colocar limitações para as pessoas com mais de 60 anos”, declara Marcela.  

Independência: uma vez que há autonomia, há independência. Para isso, é preciso cuidar das atividades básicas, como alimentação, higiene pessoal, sair para fazer compras, administrar a vida financeira, usar meio de transporte, cozinhar e, o mais importante, cuidar da própria saúde; 

Socialização: uma vida social ativa, seja dentro ou fora do âmbito familiar, é essencial para a saúde mental e física, ajudando na preservação da memória, reduzindo o nível de estresse e ansiedade e restabelecendo a autoestima e alegria; 

Saúde mental: Em mais recente levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde, dados mostram que os idosos lideram o ranking dos quadros depressivos entre os brasileiros. A baixa mobilidade pode gerar isolamento e declínio acentuado das capacidades cognitivas e do sistema imunológico; gerando aumento da vulnerabilidade a doenças crônico degenerativas.  

“Durante o processo de manutenção destes quatro fatores primordiais para envelhecimento saudável, precisamos levar em conta a importância da prática de exercícios físicos. Mesmo quem não tinha o hábito de se exercitar, pode procurar ajuda de profissionais qualificados para iniciar uma atividade física”, comenta Marcela Belchior.  

Caso haja limitações, é possível que, em conjunto com o especialista, adaptações sejam feitas como medidas para preservar a independência, como o uso de barras de apoio, confecção de rampas, evitar escadas, uso de órteses como bengalas e andadores, adaptação de corrimões, remoção de tapetes e instalação de pisos antiderrapantes.

“Essas medidas são fundamentais para garantir a segurança durante o processo de autonomia e independência”, finaliza a coordenadora assistencial. 

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