ARTIGO: Balança comercial de pneus é superavitária desde 2008

“A indústria brasileira de pneus é responsável por 33,7% das importações de pneus de passeio, por 45% das compras externas de pneus de carga (caminhões e ônibus), por mais de 70% das importações de pneus agrícolas e mais de 60% dos pneus industriais que entram no mercado brasileiro”, diz o presidente da ABIDIP, Milton Favaro Junior.

Sem a importação de pneus há superavit 1

Por Milton Favaro Junior*

A indústria nacional é hoje a maior importadora de pneus do mercado, reajusta preços acima da inflação e quer sobretaxar a importação de produtos oriundos da África do Sul, Rússia, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Tailândia.

*De janeiro a setembro de 2014, há déficit de US$ 89,5 milhões na balança comercial do segmento. Sem as importações feitas pela indústria haveria uma inversão de resultado, para superávit de US$ 217,8 milhões;

*Em 2013, a indústria evoca um déficit comercial de US$ 257,9 milhões, mas descontando-se as importações realizadas por ela haveria superávit de US$ 170,3 milhões;

*Em 2012 a balança comercial do setor de pneus foi superavitária em US$ 23,9 milhões, mas o resultado poderia ser ainda maior. Ao se descontar as importações da indústria o superávit teria sido de US$ 360,4 milhões;

*Em 2011, a indústria acusa a ocorrência de um déficit comercial de US$ 17,1 milhões. Mentira: sem as importações dela teria havido superávit comercial de US$ 442,4 milhões;

*Em 2010, a balança setorial fechou positiva em US$ 64,5 milhões. Poderia ter fechado em US$ 403,9 milhões sem as importações realizadas pela própria indústria;

*Em 2009 o setor apurou superávit comercial de US$ 403,9 milhões. Sem as importações da indústria teria havido superávit de US$ 439,2 milhões;

*Em 2008, a balança comercial de pneus registrou superávit de US$ 507,8 milhões. 

“Sem a importação de pneus que é feita pela própria indústria brasileira, a balança comercial do setor é superavitária na série de 2008 a 2014. Apenas como exemplo, entre janeiro a setembro deste ano o saldo entre exportações e importações medido sobre 41 tipos de pneus foi negativo em US$ 89,5 milhões, mas se retirarmos os volumes de importações realizadas, exclusivamente pela indústria produtora de pneus no Brasil, temos um superávit de US$ 217,8 milhões”, afirma o Diretor Executivo da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), Milton Favaro Junior.

Pneus de passeio sem importação da industria 2

Em agosto deste ano comparado a agosto do ano passado, a Continental ampliou suas importações de pneus de carga em 687% e foi seguida pela Pirelli (+186%), Goodyear (+154%), Michelin (+118%) e Sumitomo (+27%). Apenas a Bridgestone reduziu suas compras no exterior, em 63%.

“Fizemos um levantamento da balança comercial do setor de pneus desde 2008 com todos os tipos de pneus classificados para comercialização pelo governo brasileiro é o resultado é amplamente superavitário até setembro de 2014. Por que nossos números são positivos e os da indústria negativos? Porque a importação feita pela própria indústria não é computada nos dados de avaliação do Governo Federal, o que é um absurdo. A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) diz que há um déficit sucessivo há cinco anos. Essa informação está errada, pois ao se retirar as importações feitas pelos associados da ANIP a balança é muito positiva para o Brasil e muito positiva para mercado”, destaca o executivo.

Segundo levantamento feito pelo Departamento de Economia da ABIDIP, ao se descontar as importações de pneus de passeio da indústria (que chegam a 33,7% ao ano sobre o total importado) e a de pneus de veículos de carga – usados em caminhões e ônibus, que em média responde por 45% ao ano de todas as importações para esse tipo de pneu -, os resultados da balança comercial do setor só exibem números positivos.

Pneus de carga sem a importação da industria 3

“O Governo Federal não entende ou não quer entender que a indústria, que acena com milhões em investimentos em fábricas, máquinas e aumentos da capacidade de produção não está consolidando suas promessas. Pelo contrário, essa indústria é uma das maiores plataformas de importação de pneus do mundo. Nós deduzimos apenas as participações da indústria na importação de pneus de passeio e de carga, mas se deduzirmos os mais de 70% de peso dessa indústria na importação de pneus agrícolas e os mais de 60% em pneus industriais temos impacto ainda mais positivo nos saldos comerciais. O Governo Federal não vê assim e prefere aceitar os pedidos por mais benefícios fiscais, tributários, financeiros, cambiais para essa indústria que agora quer aplicar sobretaxas sobre pneus de carga importados de outros seis países, além das sobretaxas já aplicadas sobre pneus importados da China”, relata o Diretor Executivo da ABIDIP.

A indústria brasileira de pneus é responsável por 33,7% das importações de pneus de passeio, por 45% das compras externas de pneus de carga (caminhões e ônibus), por mais de 70% das importações de pneus agrícolas e mais de 60% dos pneus industriais que entram no mercado brasileiro.

Segundo Milton Favaro Junior caso a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) acate o pedido de sobretaxas sobre pneus importados da África do Sul, Rússia, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Tailândia, como deseja a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), o Brasil perderá dois elementos muito importantes para a regularização de preços: a concorrência e a competição.

Além de ser a maior importadora de pneus do Brasil – deveriam produzir localmente e não importar – a indústria não tem demonstrado muita preocupação em reajustar os preços de seus produtos junto aos transportadores e frotistas. Aqui, estamos falando do preço do frete, um item que afeta não apenas a rentabilidade dos transportadores, mas tem impacto direto na formação de preços de bens duráveis e não duráveis e, consequentemente, na inflação.

Dados do Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos da NTC& Logística (Decope), em levantamento realizado pelo Índice Nacional da Variação de Custos do Transporte Rodoviário de Carga Lotação (INCT-L), mostra que os reajustes continuados de preços de pneus foram os mais altos em janeiro de 2013 ante janeiro de 2012, de 10,12%, na comparação com custos de 10,09% dos salários pagos a motoristas e setores de administração em empresas de transporte.

Pneu, um dos maiores custos do transporte

Confira você mesmo:

*Em fevereiro deste ano sobre fevereiro de 2013, os pneus subiram 12,13%, os salários 10,09%, seguro 6,82%, lavagem 1,23%;

*Em março de 2014 sobre março de 2013, o pneu subiu 11,16%, o cavalo mecânico 8,04%, salários 7,33%, seguro 6,78%;

*Em abril de 2014 sobre abril de 2013, os pneus apresentaram aumento de 11,16%, o cavalo mecânico de 7,99%, o seguro de 6,75%;

*Em maio deste ano sobre maio do ano passado os pneus apresentaram alta de 9,28% no INCT-L, ante aumento de 7,99% no cavalo mecânico, 6,81% no seguro, 5,75% nos salários pagos pelo setor;

*Em junho 2014 sobre junho 2013, nova alta de 8,32% dos pneus, superior ao do cavalo mecânico (8,04%) seguro (6,88%) e salários (5,75%);

*Em julho 2014 comparado a julho de 2013, os pneus subiram 6,78% e perderam apenas para o custo com cavalo mecânico, que foi de 7,03%;

“É isso. A indústria domina a fabricação, domina a exportação e a importação de pneus de carga, importa mais de 1/3 de todos os pneus de passeio usados no Brasil, aplica aumentos contínuos de preços sobre os frotistas e transportadores, divulga dados errôneos à imprensa e faz lobby em Brasília para sobretaxar a importação de pneus, fato que visa acabar com a concorrência e a competitividade no setor. Alguns veem crise, mas eu vejo apenas céu de brigadeiro para a indústria nacional de pneus. Ao invés de buscar mais investimentos, de aplicar mais e mais recursos em produção e produtos de qualidade, essa indústria é hoje uma plataforma de importação. Os importadores independentes que poderiam ajudar a regularizar o preço e o grau de competitividade e concorrência local estão fechando suas portas, gerando desemprego e queda de arrecadação de impostos em prol de um oligopólio ancorado na ANIP.”

*Milton Favaro Junior é diretor-executivo da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP).

As informações, em sua íntegra, são da ABIDIP

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