IBEF constata: greve dos caminhoneiros vai derrubar PIB e puxar inflação

Executivos financeiros recomendam cautela às empresas e mais volatilidade com eleições.

A greve dos caminhoneiros afetou o desempenho da economia no segundo trimestre. A constatação ‘unânime’ foi tirada do último encontro dos executivos financeiros (IBEF) que reuniu 50 CFOs na Praia do Forte (BA).

“O crescimento que esperávamos para este ano, em torno de 3%, já é consenso que será inferior a 2% e alguns já falam em 1,5%”, diz o presidente do Conselho de Administração do IBEF-SP, Luis Schiriak.

Segundo o executivo há grande preocupação com o arrefecimento da economia nos próximos meses, que deve ganhar maiores contornos com a volatilidade que o cenário pouco previsível das eleições presidenciais de 2018 poderá agregar, gerando mais dificuldade de planejamento para as empresas.

A recomendação para as empresas é de cautela e muito cuidado com os níveis de endividamento.

“Proteger o caixa das companhias e, realmente, manter os custos no nível mais baixo possível, esperando que depois das eleições tenha um crescimento”, diz Schiriak.

Veja os principais consensos do encontro:

Setor de alimentos – começou bem o ano, com alta de 7% nas vendas registradas no 1º trimestre, perdeu fôlego em maio. O varejo de alimentos registra queda de 3%, segundo dados da Nielsen.

Proteína animal – as perdas já são superiores a R$ 80 bilhões, segundo cálculos da ABPA. Nessa conta entram as perdas de comercialização no mercado interno, animais mortos, custos logísticos e perdas de contratos de exportação. Mesmo com o baque, o setor alimentício projeta encerrar o ano com crescimento de 2,8% e aumento das exportações – aquecidas pela valorização do dólar.

Fusões e Aquisições – Augusto Martins, diretor do Banco Alfa de Investimento aponta que as fusões e aquisições seguem fortes neste ano e a perspectiva é de R$ 100 bilhões em operações, o que seria recorde. Um dos setores em destaque é infraestrutura, que tem a China como um dos grandes players, observa o executivo.

Investimentos em alta – Charles Putz, sócio da Rio Bravo Investimentos, reforça a tese de Augusto Martins ao destacar que o investimento estrangeiro continua chegando, principalmente asiático. O grupo chinês Fosun, por exemplo, comprou recentemente 70% de participação na Guide Investimentos e continua em busca de oportunidades. Já a companhia indiana Sterlit Power, que arrematou o maior lote do leilão para a construção de linhas de transmissão de energia em 2017, já afirmou considerar um investimento de US$ 4 bilhões em projetos de energia no Brasil até 2022.

Crédito – Aury Ermel, diretor financeiro do China Construction Bank, segundo maior banco da China e do mundo, aponta que até o final de 2018 o crédito pode se tornar escasso para mais alguns setores, devido às consequências para as cadeias produtivas.

PIB, câmbio e juros – O China Construction Bank reviu as projeções para o PIB de 2018, para 1,6% (com expectativa de queda de 0,25% a 0,30% no próximo trimestre). O impacto na inflação deve já refletir em aumento de 0,90 a 1% já no próximo IPCA – mas espera-se ficar dentro da meta no fechamento do ano. Já a taxa básica de juros, trabalha-se com o cenário de 6,5% até o final de 2018.

Serviços – Em sua apresentação aos executivos, Henrique Luz, sócio da PwC Brasil, apontou que o setor de serviços apresentou discreta retomada do crescimento no primeiro trimestre de 2018, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Após três anos de queda significativa, o segmento de serviços de consultoria e profissionais mostrou forte recuperação no período. No caso da PwC, o crescimento foi de 17% em comparação ao primeiro trimestre de 2017.

Henrique Luz diz que o grau de incerteza sobre a economia aumentou muito nos últimos 30 dias e ainda não se tem exata dimensão sobre os efeitos que a solução encontrada pelo governo para estancar a greve dos caminhoneiros – recorrendo a mais subsídios – poderá ter sobre a economia.

A grande variável da equação deste ano, ressaltou o executivo, é a corrida eleitoral. A população irá eleger, além do presidente, governadores, senadores e deputados.

“É essa variável que precisamos trabalhar para ter um Brasil melhor, que encontre mais ética, e que os parlamentares nos quais iremos votar sejam comprometidos com o desenvolvimento do País, por via de reformas econômicas, políticas e sociais”, ressaltou.

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